segunda-feira, 26 de março de 2012

PROFUNDIDADE DO AGACHAMENTO EM COMPETIÇÃO - Prof Denilson Costa

Essa matéria está sendo construída em conjunto a uma discussão no Facebook, na comunidade POWERLIFTING BRASIL http://www.facebook.com/groups/224954364269386/ onde nosso amigo Andre Jens, postou o vídeo de um levantador olímpico agachando. Devido a um perfeito ângulo de filmagem, decidi analizar o movimento dentro das regras do powerlifting, simulando uma competição, a partir de uma colagem de fotos tiradas do vídeo.




O facebook proporciona maior possibilidade de interatividade do que o campo de mensagens do blog, mas aqui tenho a possibilidade de juntar fotos e construir a matéria de forma mais organizada.



Para os que estão ingressando agora no esporte, a arbitragem do agachamento tem sido o ponto de maior discordância entre federações, no entanto, o livro de regras de todas parece ser igual, embora as interpretações sejam inúmeras. Algo que acontece até com a bíblia...Quem escreveu o primeiro texto, e quem copiou, eu não sei...


"" 3. Upon receiving the Chief Referee’s signal the lifter must bend the knees and lower the body until the top surface of the legs at the hip joint is lower than the top of the knees. ""

“Após a ordem do árbitro central, o levantador deve flexionar os joelhos e abaixar o corpo até que o topo da coxa na articulação do quadril esteja mais baixo que o topo dos joelhos”

Alguns pontos merecem atenção:

1- Que ponto deve ser considerado o topo dos joelhos?
2- Levando em consideração a massa corporal do atleta, será que grandes coxas ou mesmo a barriga, não tornariam a visualização do topo da coxa no quadril, algo nebuloso?

O texto a seguir consta na página de abertura do site de IPF (http://www.powerlifting-ipf.com/ ), e descreve o agachamento para o público em geral:

The lift starts with the lifter standing erect and the bar loaded with weights resting on the lifter's shoulders. At the referee's command the lift begins. The lifter bends his knees and lowers him into a squatting position with the hips slightly below parallel position. The lifter returns to an erect position. At the referees command the bar is returned to the rack and the lift is completed.


“O agachamento inicia com o levantador ereto, e a barra apoiada sobre os ombros. O movimento tem início após a ordem do árbitro. O atleta flexiona os joelhos e abaixa em uma posição de agachamento com o quadril ligeiramente abaixo da posição paralela. Em seguida, retorna a posição ereta. Após ordem do árbitro, a barra poderá ser retornada ao rack, e o movimento é considerado concluído.”




Aqui temos uma “reinterpretação” das regras. O grifo para “quadril ligeiramente abaixo da posição paralela” foi meu, uma vez que observando a seqüência de fotos abaixo, veremos que é uma definição muito mais prática, objetiva e de fácil visualização. Infelizmente, ela não consta no livro de regras...



Na foto acima, um agachamento ligeiramente abaixo do paralelo, e por tanto válido, como descrito na página de abertura da IPF.


Aqui a coisa complica. Estamos de volta ao livro de regras e seus pontos obscuros subjetivos:


Onde fica o topo dos joelhos?
a) Esse seria o ponto aproximado do bordo superior da patela. Sua visualização exata é quase impossível com 2 metros de faixa envolvendo os joelhos...

b) Esse é um ponto que eu escolhi como mais alto, e ainda assim fica próximo ao joelho. Outro árbitro poderia escolher outro ponto... é subjetivo, mas não deveria ser!

c) O ponto verde representa o topo da coxa na junção do quadril.


Ja vi recordes brasileiros quebrados nessa posição, e ja vi movimentos sendo queimados nela também.


Interpretando o livro de regras ao pé da letra, o movimento acima seria invalido, uma vez que nenhum dos pontos A) ou B) estão abaixo do ponto C)...


Na foto acima, fica claro que se julgássemos apenas a questão "QUADRIL LIGEIRAMENTE ABAIXO DO PARALELO" (como na página de frente da IPF), deveríamos validar o movimento.



Observem que:


1- a grande massa formada pelos glúteos no quadril está abaixo da pequena massa formada pelos joelhos.

2- o volume total da coxa começa a apontar para baixo. Isso fica particularmente claro quando olhamos o bíceps femural.


O que a IPF e as demais federações vão fazer quanto a isso, não sei, mas fica claro que PRECISAMOS URGENTEMENTE DE UMA REVISÃO NO LIVRO DE REGRAS EM RELAÇÃO AO AGACHAMENTO.


A seguir, temos uma votação feita no site "powerlifting watch" sobre o que os leitores acham que a arbitragem da IPF deseja em profundidade para validar um agachamento http://www.powerliftingwatch.com/node/5783:


Notem, nem a IPF ou qualquer outra federação delimita quantos centímetros ou polegadas o topo da coxa no quadril deveria estar abaixo do nebuloso topo dos joelhos para validar um agachamento. Dessa forma, 3/4 dos 590 que responderam a pesquisa, consideram que a IPF exagera nessa questão, incluindo 19% que chegam a citar que é necessário sentar nos calcanhares como os levantadores olímpicos fazem para que um árbitro reconheça o movimento.


Outra sequencia de fotos:


Abaixo do paralelo: maior parte da massa do quadril e gluteos abaixo dos joelhos, a coxa faz uma linha inclinada para baixo.



Paralelo: Grande massa dos gluteos alinhada de forma simétrica aos joelhos, o conjunto da coxa tem parte do quadriceps apontando para cima, e parte do biceps femural apontando para baixo. A resultante seria uma linha paralela que atravessa o centro dos joelhos e atravessa o centro dos glúteos.



Acima do paralelo: é possível traçar uma linha reta que passa horizontalmente sob os gluteos, bíceps femural e base dos joelhos.


Muitos agachamentos abaixo do paralelo como na primeira foto tem sido considerados inválidos na IPF, essa me parece a única razão dos grandes agachadores dessa federação não terem chegado ainda a meia tonelada. Por outro lado, existe um outro extremo onde agachamentos acima do paralelo são válidados em outras federações, onde já se chega próximo aos 600kg.


Que tal regras mais claras ?

QUEBRAR O PARALELO! simples assim...

a quem interessar, no momento sou diretor técnico da IPF no estado do Rio de Janeiro.
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atualização em 01-04-17: Achei essas fotos em algum lugar que não recordo, mas elas elucidam bem a regra... Na segunda foto um agachamento de 3 luzes brancas, que não deixa qualquer dúvida. Nem todo atleta vai optar por agachar tão baixo, já que o total de luzes brancas acesas não aumenta a quilagem do agachamento na súmula. Já na primeira foto, um outro extremo que também não deixa dúvidas: Paralelo e inválido na IPF!





... e finalmente, alguns anos depois (essa matéria é de 2012) A IPF chega a meia tonelada:














4 comentários:

  1. Realmente um assunto muito polêmico esse.

    Tem alguns agachamentos que chegam a ser ridiculos e ainda são validados, e normalmente que vejo isso é alguma federação dos EUA. 1300 pounds @ 1/3 de agachamento, é complicado.

    Ainda não sou competidor, apenas sou admirador e treino powerlifting, mas arriscaria uma sugestão:

    Não seria possível implantar algum tipo de regra aonde os arbitros, assistiriam o video de 1 ou mais angulos e analisariam antes de validar o agachamento?
    Sei que seria dificil, e atrasaria muito as competições, mas pelo menos não restariam duvidas.

    Mudar a resolução da regra para "Quebrar o paralelo", seria uma ótima tambem.

    Não sei como é julgar um agachamento de perto, mas em alguns casos, como esse do Salimi, parece muito dificil identificar se passou ou não, apenas olhando ali "ao vivo", tudo muito rapido, sem ver um video. E os arbitros precisariam de mais coerencia tambem.

    Bons treinos

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    1. As federações costumam realizar congressos técnicos antes das competições, cursos de formação e reciclagem de árbitros anualmente. Existe uma organização para que tudo corra bem, mas penso que o próprio livro de regras não é tão claro quanto deveria

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  2. caro denilson, sobre o post dos pré hormonais:
    discordo em alguns pontos caro blogueiro.. acho que de alguma forma substancias pré hormonais ajudam a elevar a produção natural de hormonio sim.. eu utilizei ZMA (estimulador de testosterona) e GH Max da universal(estimulador do GH).. comecei a usar na sexta a noite antes de dormir.. segunda feira no treino eu ja percebi grande aumento de força e resistencia.. fora do normal.. coisa q nao tem como atribuir a efeito placebo.
    digo isso por experiencia propria. na pratica eu acredito que os nutrientes que estão sendo ingeridos possam aumentar alguma forma a produção de hormonios até o limite da produção natural desses hormonios, como se o organismo percebesse a ingestao e aproveitasse a maré boa de nutrientes para produzir mais.
    posso estar errado, mas o aumento consideravel do meu desempenho me faz acreditar que funciona sim.
    faz tempo q utilizei esses suplementos, e junto com hipercalorico, proteina e malto durante o treino como de praxe e eu aumentei 21 kg em 3 meses, com aumento consideravel de força e de volume muscular.
    ps: gostei muito do seu blog..

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    1. Rafael Costa, gosto muito quando as pessoas comentam no blog, mesmo que seja para discordar em um ponto ou outro. É sempre enriquecedor ouvir relatos pessoais.

      Sobre o ZMA, prefiro que leia por voce mesmo: http://www.evidenciasaude.com.br/artigos/11-O-caso-ZMA-das-evidencias-e-escandalos

      Sobre GH Max, acho pouco provavel que as substancias listadas no rótulo causem qualquer efeito nos niveis de GH endogenos: ..."Ingredientes: Arginato de cálcio, cálcio quelato com omitina alfacetoglutarato, bitartrato de colina, óleo de germen de trigo, óleo de palma, vitamina C, vitamina B6, cloreto de cromo, aroma natural de guaraná, aroma natural de cola, sulfato de cálcio...." Um estudo agora de 2012 mostrou que AAKG (arginina bla bla bla...) não promoveu qualquer efeito sobre adaptações ao treinamento...

      J Int Soc Sports Nutr. 2012 Apr 17;9(1):17. [Epub ahead of print]
      Acute L-arginine alpha ketoglutarate supplementation fails to improve muscular performance in resistance trained and untrained men.
      Wax B, Kavazis AN, Webb HE, Brown SP.


      Uma boa parte dos suplementos acaba sendo uma forma bem cara de placebo na minha opinião...

      Sobre pre-hormonais... bem,,, esses suplementos vem se sofisticando cada vez mais, e podemos dizer que parte deles não são mais "pré" nada, são hormonios mesmo,, é o caso do M-Drol.... Nesses casos, é claro que funcionam, mas são tóxicos e tem efeitos colaterais, uma vez que tecnicamente são esteróides de fato!

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