domingo, 22 de janeiro de 2012

O AJUSTE DA BASE NO AGACHAMENTO DE COMPETIÇÃO, RAW POWERLIFTING, IMPRESSIONANTES FEITOS DE FORÇA E ALGUMAS MAZELAS...

Ando me dedicando a uma serie de coisas e o tempo ficou meio curto pra postar aqui. De relevante para você leitor, essa série de coisas inclui uma coluna na revista Musculação e Fitness (JMF). Se você gosta desse blog, compre a revista. Muita coisa de alto nível é escrita lá! Pra compensar o tempo sem postar aqui, ai vai algo graaaaaaaaaaaaaaaande. Espero que tenham saco de ler!


A algumas semanas atrás, graças a grande facilidade de acesso a imagens e informações proporcionadas pela internet... FACILIDADE ESSA AMEAÇADA PELOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E SEUS PROJETOS DE LEI “PIPA” E “SOPA”, me deparei com dois impressionantes e brutais feitos de FORÇA PURA, objeto de estudo, e ideologia que impera nesse blog!

De um lado Pat Mendes, um jovem norte americano de 19 anos que decidiu abrir mão de tudo na vida para ser campeão de levantamento olímpico! Digo abrir mão porque sua rotina de treinamento inclui 13 sessões semanais de agachamento, arranco e arremesso. Isso obriga o treino em 2 turnos diários, uma vez que 7 dias não comportariam suas 13 sessões!


Cadê tempo pra outras coisas? Não existe! É o preço! É por isso que toda vez que um idiota fala em esteróides, quando vê alguém maior ou mais forte que si mesmo, eu fico irritado! Atletas atingem a excelência não por causa de esteróides anabólicos, mas porque estão dispostos a sacrificar muita coisa em suas vidas, o que inclui as limitações de tempo num dia com apenas 24 horas, e uma semana de apenas 7 dias...

Pat Mendes alem de um Record mundial Junior não oficial de 207kg no arranco, possui um agachamento de 363kg, no melhor estilo “no no”, ou “ATG” (ass to Grass = rabo até o chão), gírias gringas que remetem a agachamentos profundos, sem faixas de joelho ou cinto! Para os que se denominam “raw powerlifters”, essa foi uma das mais extremas demonstrações de força pura que eu já vi!

http://youtu.be/WK7m6I5m6gY

Para que os leitores entendam, o termo “RAW” (leia-se RÁU!) define algumas facções dentro do esporte powerlifting que reúne atletas entediados de apertar longas faixas ao redor de seus joelhos até paralizar a circulação; de entrar em macacões apertados 3 números abaixo do seu, necessitando para isso da ajuda de três pesados gorilas; ou camisas de força no supino que para o espectador, fazem o atleta parecer um zumbi saído do filme “ A volta dos mortos vivos”...

Maratona de powerlifters furiosos correndo com camisas de supino



Powerlifter se preparando para supinar usando uma Super Duper Mother Fucker Bench Shirt


Até o momento não existe consenso sobre o que é RAW. De fato, a coisa funciona mais ou menos assim, (na mentalidade sectarista dos terráqueos que só conseguem conceber e aceitar como válidas, as suas verdades):

Nosso esporte (powerlifting) é regido por muitas organizações ao redor do mundo, ao contrário do levantamento olímpico (IWF), futebol (FIFA) e do MMA (UFC). Se hegemonias são boas pro esporte ou pro resto da humanidade isso é assunto pra outra matéria.... Mas enfim, federações como a WPC, são criticadas por todos, embora la tenha sido onde o esporte adquiriu algum principio de profissionalização (profissionalização no meu dicionário quer dizer premio em dinheiro pros atletas) e apelo estético ao público (luzes de palco, fumaça, suporte monolift hidraulico de agachamento). Não existe anti-doping. Os atletas usam faixas de 3 metros nos joelhos; camisas duplas e macacões reforçados com 2 camadas mais um “brief” (meio macacão interno sem alças, algo como uma poderosa cueca de força, rs....), e a arbitragem... hummm.. digamos que veio se tornando bem “flexível” com a altura do agachamento nos últimos anos. Lá os supinos passam de 400kg e os agachamentos de meia tonelada, e claro, isso incomoda muita gente! A WPC também esteve a frente por algum tempo de um adendo do mega evento do Fitness “Arnold Classics”, de nosso saudoso ator, bodybuilder, político e ex usuário assumido de esteróides Arnold Schwarzenegger! Isso acabou em 2007, supostamente por pressões para inclusão do anti-doping nos atletas, após o escândalo de anabolizantes envolvendo o bodybuilder Victor Martinez que participara dos eventos de nosso amigo exterminador do futuro, e o calote que o presidente da WPC Kieran Kidder teria dado em alguns atletas. Isso fez com que muitos nomes largassem a WPC, incluindo Louie Simmons e a West Side.

Numa organizada empreitada que tenta incluir o powerlifting como esporte olímpico, a IPF, outra federação internacional de peso, adotou regras muito mais rígidas em relação não só aos movimentos, mas ao equipamento de suporte utilizado pelos atletas: Agachamentos devem quebrar o paralelo; supinos devem ser feitos no peito e não na barriga; faixas de joelhos só podem ter 2 metros; macacões e camisas de força só podem ter uma camada, e alguns atletas são testados no dia das competições. Existe certa animosidade entre esses 2 universos extremos. O lado de cá (sim, eu comecei na IPF e apareço por lá ocasionalmente) diz que supino na barriga não é supino; que lá na WPC não tem anti-doping; e que os atletas não agacham fundo, alem de usarem armaduras hidráulicas dentro das roupas... Os do lado de lá dizem que esse anti-doping é um jogo de cartas marcadas; que testar só antes de competição não garante que o atleta não tenha usado o ano todo (isso é verdade), e que mesmo os atuais equipamentos aceitos de uma única camada estão longe de apenas oferecer proteção ao atleta, pois possuem um “carry-over” bem significativo em relação aos movimentos raw (verdade, uma Super-Katana pode perfeitamente jogar de 40 a 80 kg no supino).

Entram em cena os “puristas” do “RÁU” powerlifting:

“Nosso esporte deve voltar as origens”

“Os atletas devem testar os limites de sua própria força e não o limite de acessórios esportivos”;

“O uso de equipamento é ridículo para o publico”;

“É por isso que não somos esporte olímpico”...

Essas são algumas das falas favoritas de nossos amigos RÁUS. Muitos se comparam ao levantamento olímpico, uma demonstração magnífica de força explosiva feita sem nenhum suporte (é raro ver atletas na plataforma com cintos ou faixas, embora sejam permitidos).

Também existe “RÁUnimosidade”. De cá pra lá, daqui pra lá e em todas as direções...

“Raw é raw, não pode usar nem cinto”!

“Não, raw pode usar cinto e faixa de joelho pra proteger”...

“Raw é pra macho, se você quer proteção vai competir numa federação equipado”!

Percebe leitor? Nossos amigos terráqueos estão longe de construir um consenso em relação a moralidade, ao politicamente correto e muito menos ao que é RÁU. Isso não seria problema! Viva as diferenças que colorem o mundo! Mas não é tão simples, usando a ferramenta do anonimato ou a proteção da telinha do PC, muitos “lifter-nautas” (particularmente em fóruns gringos) usam o espaço virtual para ofender os que pensam diferente de si mesmos! Lançam acusações, blasfêmias, heresias e bravatas maiores que os seus culhões encolhidos por abstinência androgênica poderiam suportar. Caro leitor, não seja um bundão! Respeite os dopados, os puristas, os ráus, os semi ráus, os semi equipados, os equipados com armadura, os naturalistas, cristãos e satanistas! Não existe verdade única, e o que é bom e certo pra você, pode não ser pro teu vizinho...

FOTO: Conselho supremo dos ultra RÁU powerlifters banindo um atleta. A justificativa foi que as pinturas no corpo ofereceriam vantagem desleal no arremesso de lança contra os tigres de bengala

Muitos atletas gostariam de ver federações e regras um dia unificadas em grandes eventos, e se existe uma vantagem potencial do RÁU, é essa possibilidade de simplificar as coisas e unir. O uso de equipamento talvez seja a maior área de divergência entre as organizações de powerlifting; o doping também seria, mas muitos eventos não são testados em várias delas! Dessa forma, tirando o equipamento, é muito mais fácil combinar meses antes da competição como o agachamento, o supino e o terra deverão ser executados; o que na pratica significa apenas dizer onde a barra encosta no supino e o quanto o quadril desce no agachamento. Simples assim!

HERCULES 2012 RAW é uma dessas iniciativas:
http://www.hardcorepowerlifting.com/
http://www.hardcorepowerlifting.com/pdf_Contest/coleman%202011%20pg%204.pdf
http://www.hardcorepowerlifting.com/pdf_Contest/coleman%202011%20pg%205.pdf

Na verdade, iniciativas como essa já vem ocorrendo. Sean Katterle, o cara a frente da “hard core powerlifting” vem organizando eventos profissionais independentes de federações, em ambientes bem “glamorosos” diríamos: Olympia Expo, Europa Super Show e agora Ronnie Coleman Classic. Sean na verdade já foi mestre de cerimônias de eventos de powerlifting ocorridos também no Arnold Classic e Los Angeles FitExpo.


Mas retornando ao assunto inicial, depois dessa LOOOOOOOOOOONGA volta. O outro FREAK de quem eu gostaria de falar é Stan Efferding. Stan (é o primeiro nome do cara, não é nenhum apelido bobo fazendo alusão a substancias dopantes, rs..) é um profissional da IFBB, ou seja BODYBUILDER, que ao contrário das novas tendências “pump” com alta repetição, parece acreditar no bom, velho e básico treino pesado como base para uma boa musculatura. Esse freak agachou com 388kg (ABAIXO DO PARALELO), além de no mesmo dia supinar com 275kg e fazer terra com 348kg pra um total de 1011kg, usando apenas um cinto, e nos joelhos apenas NEOPRENE pra manter as articulações aquecidas!


Decidi comparar Stan e Pat Mendes em primeiro lugar por causa das cargas enormes sem uso de equipamento, e em segundo pelo estilo tão diferente. Stan Efferding levanta 25 kg a mais que Pat, será que isso prova que bases abertas no clássico estilo powerlifting, de tronco inclinado são melhores que as bases olímpicas para levantar cargas máximas? Hummmm,, não sei! Embora as pessoas sejam loucas por comparar coisas diferentes e afirmarem o quanto uma é superior a outra, o que me surpreendeu aqui é que mesmo sem equipamento e com base aberta, um atleta foi capaz de quebrar o paralelo e levantar 388kg, um recorde mundial! Uma crença comum dentro dos círculos do powerlifting é que bases abertas só servem pra tirar vantagem dos equipamentos reforçados permitidos nas federações que usam monolift! Bom, uma imagem vale mais que mil palavras, fica valendo o clichê! 388kg de agachamento, base bem aberta, tronco inclinado, o clássico agachamento de powerlifting!

Stan tem o estilo “grind”, ou seja, lenta fase excêntrica para se manter na posição, e após quebrar o paralelo, retorna em literalmente, num movimento em câmera lenta, realmente máximo, denominado como “quase isométrico” por autores como Mel Siff. Stan esta fazendo força e brigando pra conquistar cada centímetro do percurso de subida!

Pat Mendes ao contrário tira vantagem das propriedades elásticas tanto do conjunto muscular e tendinoso, quanto da barra. Seu estilo é “bounce”, ou seja, utilizando uma base mais fechada, comum aos levantamentos olímpicos, ele bate no fundo da posição de agachamento, literalmente sentando sobre as panturrilhas. O corpo para subitamente no fundo, mas a barra que é flexível continua a descer. Pat tem um “timing” perfeito, e usa o tempo da barra para retornar. Observem a filmagem quadro a quadro. As anilhas balançam para baixo violentamente, e Pat sobe junto com o aço que ao retornar a forma reta original, ajuda a arremessar o atleta acima do paralelo, onde Pat realmente tem que utilizar força pura e brigar com o movimento (stick point).

Por tanto amigos, os campeões são sempre a exceção, não a regra. Possivelmente muitos deles são aqueles “outliers,” que sempre destoam da curva de normalidade no gráfico de um estudo. Não tenham medo de ousar nos treinamentos e de tentar coisas loucas, extremas ou esquisitas. Não existem receitas de bolo pra montagem de programas ou uma biomecanica identica nos 3 movimentos do powerlifting que sirvam pra todos os atletas. Toda teoria do mundo não vai ser útil sem os calos nas mãos! Se não podes vencer a competição, que vença a si mesmo, e seja feliz fazendo aquilo que gosta! Sempre! A FORÇA É CONSTRUIÇÃO DO TEMPO !

Termino com a frase de meu velho amigo Leymir


"Sempre duvidei que a ignorancia e a certeza fossem irmas gemeas, ..... , descobri que estive errado"...