segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Levantamento terra e o ponto fixo virtual... por Denilson Costa

“ deem me uma alavanca e um ponto de apoio, e moverei o mundo”  Arquimedes




Num sistema de alavancas, o ponto fixo é fácil de identificar. No esqueleto são as articulações, que atuam como eixos para que o músculos movimentem os membros. Nos desenhos animados, é aquela pedrinha colocada em frente a uma enorme rocha, sobre a qual o vilão encaixa uma longa haste de madeira para aplicar força e deslocar o pedregulho, iniciando uma avalanche...



Os powerlifts também possuem pontos fixos, mas pelo menos um deles, não se relaciona as articulações. Estou falando do ponto para onde você deveria fixar o olhar, antes de iniciar o movimento, particularmente na puxada do levantamento terra. Alguns atletas olham para cima, outros para frente, e outros para o chão. A definição desse ponto fixo “virtual”, é  na verdade de suma importância, uma vez que você puxará a barra para longe dele, tenha ou não consciência disso.



É grande o número de atletas que olha para o alto durante a execução do levantamento terra. Nos últimos anos, essa posição comum ganhou críticas entre os “teóricos do exercício”. A alegação era de que olhar para cima hiperextenderia  a região cervical, causando compressão direta sobre os nervos, inibindo o potencial máximo de transmissão de pulsos nervosos, e com isso, inibiria a máxima produção de força. Com o uso de um discurso prolixo, regado a termos anatômicos, essa “teoria” gerou alguns seguidores, embora o seu pressuposto central, jamais tenha sido testado em laboratório. Aliás, a biomecânica, particularmente aquela entendida pelos fisioterapeutas e educadores físicos mais conservadores, está cheia de alegações que constituem apenas bons modelos teóricos, em outras palavras: hipóteses. No meio científico criamos hipóteses todo o tempo, mas elas se tornam um “fato científico”, apenas após serem testadas na prática, e não é isso que se verifica no receituário de contraindicações dos profissionais de saúde. São Joelhos que não podem dobrar, colunas que só podem curvar em uma direção, e inúmeros movimentos proibidos sem um contexto...

A melhor inferência biomecânica que podemos fazer em relação a cabeça voltada para o alto no terra e no agachamento, é uma diminuição discreta do braço de resistência para os eretores da coluna e extensores do quadril. É simples: Tudo aquilo que se projeta para frente da barra, vai aumentar o peso a ser levantado. Simples assim!

Olhar para o alto pode ter outras repercussões. Parte dos eretores da coluna, tem origem na região cervical, e ao olharmos para o alto, reduzimos o comprimento desses músculos, o que poderá auxiliar-nos em manter a coluna vertebral numa posição mais neutra durante a puxada; digo neutra uma vez que é praticamente impossível manter aquela elegante postura  arqueada dos levantadores olímpicos, quando puxamos pesos realmente pesados e máximos do chão. Indo além, arquear as costas no início de um terra máximo pode representar um gasto extra e desnecessário de energia, aumentar o estresse no arco vertebral posterior, além de aumentar a distancia entre o quadril e a barra...

Olhar para o alto funciona pra todos? Não necessariamente! Como eu disse antes, tenhamos consciência ou não, puxamos a barra para longe do ponto fixo de referencia visual. Ao olhar para o alto, o atleta pode começar a puxada puxando a barra para trás, transversalmente contra as canelas, que ao criar resistência formando outro ponto fixo temporário,  pode contribuir pro famoso descompasso do terra, em que o atleta começa baixo mas prossegue com a bunda subindo bem antes que o resto do corpo.

E olhar para frente? Considero essa a posição mais difícil de gerar uma orientação espacial pro atleta. Tem muita coisa na tua frente: um juiz, cadeiras, o público, um fotógrafo, etc. Pessoas e objetos se movem, mudam de posição o todo tempo, e com isso vão se os pontos de referencia, e junto, a tua concentração...

Olhando para baixo da linha do horizonte, temos a possibilidade de nos mantermos mais concentrados, e executar simultaneamente a puxada e a extensão dos joelhos, de forma mais coordenada.  Olhar para o alto pode fazer com que se pense no terra apenas como um agachamento com a barra nas mãos. Isso pode até ser favorável no sumo, pois devido a abertura das pernas, o atleta técnico, pode potencializar o uso dos membros inferiores, enquanto no convencional, “agachar a barra para cima”, pode criar o velho problema do glúteo que sobe antes do tempo, talvez até porque olhando para o alto, o atleta tende a sentar mais baixo no movimento; e o terra convencional dificilmente será um “agachamento com a barra nas mãos”, mas sim uma puxada; com auxílio das pernas, mas não dominância das mesmas.

Experimentem! Não acreditem apenas nos teóricos do exercício! Mas.., pra cima, para frente ou para os lados, o ponto fixo tem que estar lá... pelo menos se como Arquimedes, você quiser mover o mundo, ou... um mundo de peso no terra!

                                                                                Jeff Lewis, pesando 540 libras...

Bons treinos,
See ya!

A FORÇA É CONSTRUÇÃO DO TEMPO,

Denilson Costa